De acordo com especialistas, aumento da cobrança extra traz alívio de R$ 1 bilhão, mas rombo remanescente é de R$ 5 bilhões
Fonte: O Globo
SÃO PAULO – O aumento da bandeira vermelha na conta de luz, em mais de 40%, pode aliviar um pouco os cofres das distribuidoras de energia, mas não resolve o rombo nas contas do setor. Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, o deficit na conta bandeira (que é o que se arrecada menos o custo de geração) está em torno de R$ 6 bilhões neste ano. Mas mesmo com a cobrança extra, que elevará a bandeira vermelha ao seu maior patamar, estima-se que o saldo negativo seja reduzido em cerca de R$ 1 bilhão, restando um déficit contábil de R$ 5 bilhões às distribuidoras em dezembro. — Agora, como cuidar deste deficit restante? Somente com o novo critério, esse saldo não será reduzido. É necessário se encontrar uma solução, sem um adicional para o consumidor — diz Sales.
Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), diz que a entidade propôs a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o uso dos recursos da conta de energia de reserva, que é uma espécie de fundo usado para a liquidação de compras de energia de reserva, e também o adiamento, por cerca de 20 dias, da liquidação da energia contratada pelas empresas em setembro. A liquidação dessas compras, explica Leite, deve ser realizado no início do próximo mês, e o valor chega a cerca R$ 3 bilhões.
— A energia em setembro estava muito cara, por isso, pedimos a prorrogação do prazo para a liquidação para conseguirmos aumentar a arrecadação com a nova tarifa da bandeira vermelha. Essas medidas podem minimizar um pouco o rombo no caixa das distribuidoras. Um deficit de R$ 6 bilhões equivale ao dobro do lucro líquido que as empresas devem obter esse ano — diz Leite. Segundo Leite, na próxima semana a Aneel deve autorizar o uso dos recursos da conta de reserva e a prorrogação do prazo para a liquidação da energia contratada em setembro. — Um deficit de R$ 5 bilhões nenhuma empresa suporta. Se, com esses mecanismos, conseguirmos chegar a um saldo negativo de R$ 1,7 bilhão, será muito bom para as distribuidoras.
Neste ano, a receita na conta de bandeira deverá ser de R$ 13 bilhões. Nesse período, porém, estima-se que o custo das distribuidoras com a energia contratada de térmicas será de R$ 19 bilhões. Para o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan, o aumento das tarifas da bandeira vermelha poderia, no curto prazo, melhorar a situação das distribuidoras, que hoje estão com a “água no pescoço”. — Caso não consiga equalizar a situação, isso é bastante preocupante. As distribuidoras é o elo mais importante do setor elétrico e se não se encontrar um solução, o governo terá de socorrer essas empresas. Essa, com toda certeza, não seria a melhor medida — diz Vivan.
Para ele, esse aumento poderá diminuir o consumo de energia, a medida que o consumidor se conscientize que hoje está caro a geração de energia. — Isso ajuda, no médio prazo, a diminuir o consumo. Mas, o país precisa investir em geração para suprir o crescimento esperado da economia. E geração hidrelétrica e térmica.
*Link da matéria: https://oglobo.globo.com/economia/mudanca-na-bandeira-vermelha-nao-elimina-rombo-de-distribuidoras-de-energia-21997360